Vós sois santo e fonte de toda santidade!


“Vere Sanctus es, Domine, fons omnis sanctitatis”

Amados irmãos, as palavras acima são bem conhecidas de muitos. São as palavras da Oração Eucarística II, ditas pouco antes da consagração: “Na verdade, Senhor, vós sois santo e fonte de toda santidade”. Relaciono-as a uma passagem do II Livro de Macabeus, quando os sacerdotes judeus, depois da ameaça de Nicanor, de que destruiria o templo e erigiria um a Dioniso, deus do vinho e dos excessos na mitologia greco-romana, imploraram: “Senhor do universo, vós, que bastais a vós mesmo, quisestes possuir entre nós um templo por habitação; ó fonte santa de toda santidade, conservai, pois, sempre livre de toda profanação esta casa que há pouco foi purificada” (2Mc 14,35-36). A expressão usada no livro melhor seria traduzida por “Santo, Senhor de toda santificação”.
Naquele tempo (pouco mais de um século antes de Cristo) costumes pagãos estavam adentrando sempre mais a cultura judaica e sempre havia o risco de o inimigo e opressor destruir o templo ou ao menos profaná-lo. A ameaça acima foi feita pelo general da Judéia, Nicanor, súdito do rei sírio Demétrio I.
Que vergonha, infelicidade, desgraça e horror seria para um judeu ver o templo destruído e sobre sua ruína ser erguido outro para se cultuar um ídolo pagão! Colocando-nos no lugar deles somos capazes de compreender. Não amamos e respeitamos nossas igrejas? Mas o amor pela santidade do templo, da igreja, deve ser reflexo do amor e do zelo pela santidade de outro templo: “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado - e isto sois vós” (1Cor 3,16-17), ensina-nos São Paulo. Ora, não é o pecado a grande profanação que pode levar à destruição do templo de Deus que somos nós? Deste questionamento podemos nos deparar com a triste incoerência em nossa vida: a de trabalhar com amor e respeito ao templo de pedra e a de desprezar o respeito pelo próprio corpo e o cuidado pela salvação de nossas almas. Talvez pior que destruir o templo de Deus para edificar um outro para os falsos deuses, seja querer fazer ser adorado sob o mesmo teto Deus e qualquer criatura. Lamentável, mas é essa a atitude de muitos “cristãos”, que em si tentam cultuar Deus e o dinheiro, Deus e o álcool, Deus e o prazer, Deus e o poder, Deus e a auto-imagem, Deus e as honras do mundo... Estes “desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada, e não acreditam na glorificação das almas puras” (Sb 2,22). O santo apóstolo nos vem perguntar: “Como conciliar o templo de Deus e os ídolos? Porque somos o templo de Deus vivo, como o próprio Deus disse: Eu habitarei e andarei entre eles, e serei o seu Deus e eles serão o meu povo (Lv 26,11s)” (2Cor 6,16).
A Sagrada Liturgia nos demonstra tanta santidade (na arquitetura, na música, nas vestes, nos gestos, nos ritos, nas orações), mas não só demonstra: ela exige (as disposições dos ministros e dos fieis)! E não só exige, mas aumenta (quantas graças recebemos)! A Liturgia santifica e exige santidade, pois nos põe junto daquele que é todo santidade!
Podemos, então, refazer a oração dos sacerdotes daquele tempo, nós que sofremos sempre a ameaça de nossa má inclinação, do mundo e do inimigo. Rezemos assim: Senhor do universo, que de nada tendes necessidade, quisestes habitar entre nós por vosso Filho e em nós por vossa graça. Ó fonte santa de toda santidade, fazei que “ajudados por vossa misericórdia sejamos sempre livres do pecado”, nós que uma vez fomos purificados pelo santo Batismo. Por Cristo, nosso Santíssimo Sacramento, a Santíssima Virgem Maria e todos os santos. Amém.

Pintura representando um serafim como descrito na visão do profeta Isaías (cf. Is 6)


Luís Augusto Rodrigues Domingues (publicado na edição nº 166 do Folheto Litúrgico DIES DOMINI, da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, 07/11/2010)

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