A Festa da Realeza da Bem-aventurada Virgem Maria

Pax et bonum!

Após um tempo sem postagens e atualizações, é bom voltarmos hoje falando da Santa Mãe de Deus, a Virgem Maria.
Hoje (22/08), na Forma Extraordinária do Rito Romano, comemoramos a Festa [de II classe] do Imaculado Coração da Bem-aventurada Virgem Maria, de cujo decreto colocaremos a tradução noutra postagem, e que na Forma Ordinária é memória facultativa no sábado após o II Domingo depois de Pentecostes, ou seja, no sábado seguinte à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus.
Na Forma Ordinária, todavia, celebramos a memória obrigatória de Nossa Senhora Rainha, que na Forma Extraordinária é Festa [de II classe] no dia 31/05, data original de sua instituição.
Levando em conta esta memória celebrada hoje pela maioria dos católicos de Rito Romano, compreendamos um pouco mais sobre esta devoção. 
Infelizmente, parece que na cultura ocidental hodierna termos que remontam à monarquia, à realeza, à autoridade, causam certa aversão. Daí falar-se mais em Cristo pastor do que em Cristo rei. Igualmente, parece ser mais comum falar de Nossa Senhora com títulos comuns do que com o título de realeza. E ainda que se fale, não muitas almas estão dispostas a subjugar-se ao reinado de Jesus Cristo e a reconhecer a majestade de sua santa mãe.
A Festa da Realeza da Bem-aventurada Virgem Maria foi instituída pelo grande Papa Pio XII, através da Encíclica Ad Caeli Reginam, de 11/10/1954, 4 anos depois da definição do dogma da Assunção de Nossa Senhora, 9 após o fim da Segunda Guerra Mundial, 12 após a Consagração da Igreja e do Gênero Humano ao Imaculado Coração de Maria, 1 antes do início da Guerra do Vietnã e 4 antes de sua morte.
A Festa foi datada para 31 de maio, ocasião em que também Sua Santidade ordenou que se fizesse todo ano a Consagração do gênero humano ao Coração Imaculado de Maria. Isto duraria 15 anos, até que o novo calendário mudasse a Festa de data, diminuísse seu grau para memória e se apagasse da memória de pastores e ovelhas (não se sabe quando) esta ordem de consagração ao Coração de Nossa Senhora.
Abaixo transcrevemos alguns bons trechos da Encíclica (1-2.5.33.36-37.41.45.49), disponível integralmente em português no site da Santa Sé:

Desde os primeiros séculos da Igreja católica, elevou o povo cristão orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo, nem se enfraqueceu a fé, que nos ensina reinar com materno coração no universo inteiro a Virgem Maria, Mãe de Deus, assim como está coroada de glória na bem-aventurança celeste.
Ora, depois das grandes calamidades que, mesmo à nossa vista, destruíram horrivelmente florescentes cidades, vilas e aldeias; diante do doloroso espetáculo de tantos e tão grandes males morais, que transbordam em temeroso aluvião; quando vacila às vezes a justiça e triunfa com freqüência a corrupção; neste incerto e temeroso estado de coisas, sentimos nós a maior dor; mas ao mesmo tempo recorremos confiantes à nossa rainha, Maria santíssima, e patenteamos-lhe não só os nossos devotos sentimentos mas também os de todos os fiéis cristãos.
Como coroamento de tantos testemunhos deste nosso amor filial, a que o povo cristão correspondeu com tanto ardor, para encerrar com alegria e fruto o ano mariano que se aproxima do fim, e para satisfazer aos insistentes pedidos, que nos chegaram de toda a parte, resolvemos instituir a festa litúrgica da bem-aventurada rainha virgem Maria.
Como apontamos, veneráveis irmãos, segundo a tradição e a sagrada liturgia, o principal argumento em que se funda a dignidade régia de Maria é sem dúvida a maternidade divina. (...) Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. (...)
Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, e o foi quase como Eva foi associada a Adão, princípio de morte, podendo-se afirmar que a nossa redenção se realizou segundo uma certa "recapitulação", pela qual o gênero humano, sujeito à morte por causa duma virgem, salva-se também por meio duma virgem; se, além disso, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo "para lhe ser associada na redenção do gênero humano", e se realmente "foi ela que – isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitamente unida a seu Filho – o ofereceu no Gólgota ao eterno Pai, sacrificando juntamente, qual nova Eva, os direitos e o amor de mãe em benefício de toda a posteridade de Adão, manchada pela sua desventurada queda" poder-se-á legitimamente concluir que, assim como Cristo, o novo Adão, deve-se chamar rei não só porque é Filho de Deus mas também porque é nosso redentor, assim, segundo certa analogia, pode-se afirmar também que a bem-aventurada virgem Maria é rainha, não só porque é Mãe de Deus mas ainda porque, como nova Eva, foi associada ao novo Adão.
É certo que no sentido pleno, próprio e absoluto, somente Jesus Cristo, Deus e homem, é rei; mas também Maria – de maneira limitada e analógica, como Mãe de Cristo-Deus e como associada à obra do divino Redentor, à sua luta contra os inimigos e ao triunfo deles obtido participa da dignidade real. De fato, dessa união com Cristo-Rei deriva para ela tão esplendente sublimidade, que supera a excelência de todas as coisas criadas: dessa mesma união com Cristo nasce aquele poder real, pelo qual ela pode dispensar os tesouros do reino do Redentor divino; finalmente, da mesma união com Cristo se origina a inexaurível eficácia da sua intercessão junto do Filho e do Pai.
Gloriem-se, portanto, todos os féis cristãos de estar submetidos ao império da virgem Mãe de Deus, que tem poder régio e se abrasa de amor materno.
Depois de atentas e ponderadas reflexões, tendo chegado à convicção de que seriam grandes as vantagens para a Igreja, se essa verdade solidamente demonstrada resplandecesse com maior evidência diante de todos como luz que brilha mais, quando posta no candelabro, – com a nossa autoridade apostólica decretamos e instituímos a festa de Maria rainha, para ser celebrada cada ano em todo o mundo no dia 31 de maio. Ordenamos igualmente que no mesmo dia se renove a consagração do gênero humano ao seu coração imaculado. Tudo isso nos incute grande esperança de que há de surgir nova era, iluminada pela paz cristã e pelo triunfo da religião.
A festa – instituída pela presente carta encíclica, a fim de que todos reconheçam mais claramente e melhor honrem o clemente e materno império da Mãe de Deus pensamos que poderá contribuir para que se conserve, consolide e torne perene a paz dos povos, ameaçada quase todos os dias por acontecimentos que enchem de ansiedade. (...) Todo aquele que honra a Senhora dos anjos e dos homens – e ninguém se julgue isento deste tributo de reconhecimento e amor – invoque esta rainha, medianeira da paz; respeite e defenda a paz, que não é maldade impune nem liberdade desenfreada, mas concórdia bem ordenada sob o signo e comando da divina vontade.

Por Luís Augusto - membro da ARS

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