O repouso junto dEle ou pensamentos sobre o que há de vir


Amanhã (02/11) a cristandade celebrará o dia de todos os fiéis defuntos, onde rezaremos por todos aqueles que, tendo morrido na amizade com Deus ou, pelas vias só por ele conhecidas, amparados por sua misericórdia, encontram-se em purgação, antes de entrar na glória eterna. Nossa oração nada terá de proveitosa àqueles que, tendo morrido em consciente rejeição a Deus e às suas leis, perderam-se desgraçadamente para toda a eternidade. Também não será em auxílio daqueles que já rezam por nós junto do trono de Deus todo-poderoso, pois delas não têm necessidade. E é sobre a morada destes últimos que gostaria que tratássemos hoje: o Céu. 
A Solenidade de Todos os Santos, neste ano, aqui no Brasil, está sendo celebrada hoje, primeiro dia de novembro. No Prefácio IX para os domingos do Tempo Comum, ouvimos o sacerdote falar com Deus Pai dizendo que a família de Deus “recorda a Ressurreição do Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso, quando a humanidade inteira repousará” junto dele. E prossegue como que num delicioso suspiro: “Então, contemplaremos a vossa face e louvaremos sem fim vossa misericórdia”, fazendo-nos lembrar do Salmo 117, que nossas bocas cantavam como que sorrindo na noite da Vigília Pascal: “Dai graças ao Senhor porque ele é bom! Eterna é a sua misericórdia! (...) Não morrerei, mas ao contrário, viverei para cantar as grandes obras do Senhor!” Este “Non móriar” (= “não morrerei”), logo no dia em que, depois, solenemente, renovamos as promessas do Batismo, deveria soar hoje, em nossas consciências, como um “Não pecarei”, ou seja, um compromisso de cumprir decididamente e diariamente os mandamentos, e isto é amar a Deus de verdade. Sabemos que daquele dia até hoje provavelmente tornamos a cair, a duvidar, a esquecer o fim último. Hoje talvez nos falte mais força na perseguição da meta luminosa da santidade, e parece que nos falta um pensamento mais claro sobre o que nos espera neste tal “dia sem ocaso”, que o prefácio aponta como algo tão feliz. Simplesmente não é normal que rezemos o Credo, que digamos “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna” e que depois, nos círculos do nosso cotidiano, escorreguemos nas dúvidas, vacilemos em questões que o Catecismo nos esclarece e nos deixemos seduzir por doutrinas estranhas e até pouco racionais. Dizia e diz ainda a voz da Igreja: “O último artigo do Credo ensina-nos que depois da vida presente há outra, (...) eternamente feliz para os eleitos no Paraíso. (...) Não podemos compreender a felicidade do Paraíso, porque excede os conhecimentos da nossa inteligência limitada, e porque os bens do Céu não podem comparar-se aos bens deste mundo. (...) A felicidade dos eleitos consiste em ver, amar e possuir para sempre a Deus, fonte de todo o bem. (...) Devemos esperar de Deus o Paraíso e os auxílios necessários para alcançá-lo, porque Deus misericordiosíssimo, pelos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, o prometeu a quem o serve de todo o coração; e, sendo fidelíssimo e onipotente, cumpre sempre a sua promessa. (...) As condições necessárias para alcançar o Paraíso são: a graça de Deus, a prática das boas obras e a perseverança no seu santo amor até a morte”. Que tal um “dever de casa”? Se já se conta um tempo razoável, confessemo-nos, procuremos pensar bastante no Céu e esforcemo-nos por participar da Missa na Solenidade de Todos os Santos, hoje, dado ser uma festa de preceito, e guardemos a memória destes grandes e veneráveis amigos que já gozam daquilo que deve ser nosso maior desejo.

Adaptado do original publicado no Folheto Litúrgico Dies Domini, de 26/10/2014

Por Luís Augusto - membro da ARS

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